Entrevist'Afro: Perfil de Dandara Toalégi
- Por Equipe Afro Mania
- 14 de jan. de 2017
- 3 min de leitura
Estreando nossa coluna de entrevistas, vamos apresentar hoje nossa primeira personalidade do mundo afro baiano, com vocês o perfil artístico de Dandara Toalégi Akotirene do Bloco Afro Ókánbí
Sou Dandara Toalégi Akotirene, tenho 24 anos, sou Estilista, Consultora de Moda, Personal Stilyst, Microempreendedora, Dançarina, Coordenadora de Projeto e futura Psicóloga. Moradora do Bairro de Cosme de Farias, solteira.


Conheci a magnitude e a hegemonia do mundo afro há 10 anos atrás, minha trajetória começa a partir da vida de um garotinho de 14 anos, vindo de uma família humilde, dividida entre católicos e candomblecistas, após assumir a homossexualidade e ser o choque para toda família. Quando me vi há 10 anos atrás, a perguntar-me “O que eu queria para minha vida?. Foi então que entrei na aula de dança afro, na escola primária no qual estudei, tive aulas ministradas pelo meu mestre e grande referência meu amigo, pai, professor #Baco (in memoriam) e dessa forma foi despertando em mim algo que já existia, mas estava esperando o momento certo de florescer a paixão pela #DançaAfro.
Minha primeira apresentação foi em uma caminhada da #ConsciênciaNegra, feita pelo #BlocoAfroÒkanbí no bairro do Engelho Velho de Brotas e também saí pela primeira vez no carnaval em um bloco afro na ala de dança do #MalêDebalê em 2007 com o Tema “Brasil Multicultural’ tendo como rainha uma de minhas referência da dança afro #VâniaOliveira, momento mágico que lembro até hoje. E a cada dia fui amando esse mundo novo que havia descoberto, assim nasceu minha paixão pelo Bloco Afro Òkanbí, que me acolheu, e abraçou e me abraça até hoje, comecei desfilando como destaque do carro afro, e também fui rei (pois ainda possuía perfil masculino).
Depois de minha transição sexual, continuei minha trajetória no Òkanbí como princesa e hoje possuo o título, através de muita dedicação e brasão ao bloco, como ETERNA RAINHA. E hoje torne-me mulher negra, militante, rainha e transexual, onde quebrei todas as barreiras do preconceito, na verdade ainda luto contra todo o preconceito, em ocupar e ter um título de Rainha em um bloco afro, no qual era apenas destinado ao matriarcado ao feminino BIOLOGICAMENTE apenas para nascidas mulheres. Difícil? Foi e muito! Mas através da a ousadia, determinação e força de vontade, em mostrar que posso, e sou capaz e VENCER.
Evoluí e cresci, através da vida histórica de mulheres negras e guerreiras como Negra Jhô, Arany Santana, Graça Onasilê, Zezé Barbosa, Paula Lima, Vânia Oliveira entre tantas outras, se for listar serão muitas páginas. Conquistei, adquiri espaço e reconhecimento, pelo o que eu sou e não pelo estereótipo que a sociedade achava e acha que eu tinha que me rotular ou ser obrigada a aceitar o que era mais aceitável aos olhos do preconceito, discriminação racial, intolerância religiosa e xenofobia.
“Eu não construir fama. E sim eu venci e superei as barreiras do preconceito”.
Hoje em dia, há dança afro em todo seu contexto e filosofia, mudou e muito em relação as épocas passadas. A cada dia vem crescendo, ganhando visibilidade e abrindo novas portas e novos horizontes para nós amantes da ARTE NEGRA. No meu singelo ponto de vista penso que poderia melhorar mas um pouco no sentido da UNIÃO dos blocos afros, grupos de dança, dançarinos(a), reis, rainhas e destaques e toda comunidade negra que enaltecer a dança afro, onde não existi um melhor que o outro(a) e sim que existi o ser diferente. Interessante “o que tem de diferente em mim em relação as outras?”, difícil pergunta, mas ao mesmo tempo fácil de responder:” Elas nasceram mulheres e eu me construí em uma mulher”.
Incrivelmente, convivemos ainda com a desigualdade entre negros e brancos e muitos pensam que é fruto somente de um problema social, não do preconceito. Isso legitima que o preconceito se mostre em nosso cotidiano. A teoria da igualdade racial em nosso país é desmentida por casos de racismo que ocorrem todos os dias.

O nosso racismo é institucional, alimentado diariamente por estereótipos, gracejos e piadas preconceituosas, é uma herança escravocrata que supostamente querem determinar qual o lugar do negro(a) na sociedade. Mas hoje essa história vem ganhando uma nova trajetória, com a força e formas diferente de pensar de homens e mulheres negras, pensantes, articuladores, militantes, guerreiros(a) que luta diariamente em mostra que o “negro tem valor e é capaz e somos capazes de vencer''.
Planos e projetos para o mundo afro, tenho e muitos, enquanto for amante da DANÇA AFRO, sempre estarei em constante construção de ideais. Mas nada que possa relevar agora.
E assim está sou eu. “Sempre serei uma eterna aprendiz. Pois a música ouvida e performativa hoje, não será no amanhã. Possa ser quem sabe! Mas uma águia não pousa no mesmo lugar duas vezes”.
[Fotos: Edson Ruíz] AsCom-GovBa
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